sábado, 21 de junho de 2014

Mais coisas sobre a Copa 2014 no Brasil



As mais variadas manifestações foram feitas e trouxeram importante contribuições para o desenvolvimento de nossa cidadania e mostrou para toda a sociedade brasileira como as pessoas administradoras eleitas nesse país são clientelistas, prepotentes e estão nem um pouco preocupadas com os rumos da população, principalmente aquela que é mais vulnerável, que está mais oprimida e explorada. Em todos os niveis administrativos, municipais, estaduais e federais fizeram pouco caso das manifestações de rua, e principalmente, dando exagerada atenção aos grupos mais exaltados e ignorando por completo as inumeras demandas, que podemos lembrar, não são de agora.

As manifestações atenderam a uma ânsia cidadã de trazer a sobriedade e razão, um Estado que estava alheio, alienado e imerso em um mundo de ilusões, regados a festas com os recursos que nossa população necessita.
Tivemos a oportunidade de ouvir de algumas pessoas e até de militantes (ingenuas ou domesticas pessoas... vai saber) que os gastos serão ressarcidos, que os vários níveis governamentais não usaram recursos de áreas sociais básicas como saúde e educação. E de outros militantes que o futebol foi ou é algo importante (?) para nossa cultura popular.
Comecemos refletir de trás para frente.
O futebol realmente teve um passado popular e vários times surgiram da organização popular, de uma necessidade de uma participação mais ampla de toda classe social no esporte e que teve no Brasil, um terreno extremamente fértil por políticas de “harmonização social fascista” de vários governos.
Há muito tempo isso se passou, as histórias da participação popular nos times foi substituída, ficando apenas os mitos e lendas desse tempo, dos quais notálgicas e iludidas pessoas torcedoras se apegam, negando o terrível espaço comercial que o futebol se tornou e que financiam apegados naquele passado mitológico, icônico e pelas promessas de “vitórias e conquistas” futuras, das quais só ficam com a adrenalina do próprio corpo, uma enganação que nossa mente nos prega, em preparar o organismo para uma atividade da qual não participa de fato, no caso aqui é torcer.
A história atual desse esporte (futebol no caso, mas que ocorre em outros esportes), profissionalizado de forma a movimentar cifras enormes e atender uma sociedade de consumo imediato, submissa e docilizada, advém da prática herdada do Império Romano para o controle de seu povo (o famoso pão e circo) e que manteve Roma viva por mais de um milênio. Impressionantemente funciona e muito bem, revelando o sucesso do condicionamento pavloviano para grandes “massas”, massas por serem efetivamente moldaveis ao bel prazer dos agentes manipuladores (aqui temos vários elementos: propaganda, organizações esportivas, corporações globais).
Apelamos ao pouco de razão que resta debaixo do fanatismo e emoção que muitas pessoas possuem, para que compreendam que o fato de torcer para um time X, Y ou Z, na estrutura atual, é uma alimentação da industria da ilusão/entretedimento do qual não traz nenhum tipo de mudança social da qual lutamos e propomos. Se ao menos a prática esportiva fosse estimulada de forma a aumentar seus praticantes em todas as idades, isso causaria uma aumento do bem estar da maioria da população, mesmo nos casos de pessoas com histórico familiar de doenças hereditárias, pois a prática esportiva sobre orientação adequada ameniza e reduz os sintomas de doenças manifestas e em muitos casos ajuda a prevenir as doenças. Mas nem isso se faz através da industria esportiva, que pelo discurso profissionalizante, qualquer forma de prática esportiva cooperativa, sem competição.
Esse é uma outra coisa que devemos desenvolver e trazer para as conversas. Por que devemos ser competitivos no esporte (isso pode ser conversado em outras áreas também)? Por que tem que haver uma pessoa que ganha e outra que perde? Isso é muito frustrante e causa uma reação de ressentimentos e estimula o processo de revanche, de vingança, que não é um estimulo ao progresso, mas uma espiral crescente de meritocracia hipocrita.
Um boicote efetivo aos espetáculos que nada acrescentam a busca de nossa emancipação deve ser considerado. Na Copa, que é a base desse texto, não assistir os jogos, ou se um militante realmente considera ir a algum jogo, deveria reconsiderar. Se for, que seja para as manifestações contra essa aberração fanfarrona excludente que deixou e deixará saldos negativos a nossa gente.
Isso conecta com a questão dos investimentos que o país promoveu para a realização dessa fanfarronice futebolistica. Alegam que as pessoas empresárias usaram recursos do BNDES e que serão retornados. Sendo otimista, isso é o mínimo que podem fazer e que esses recursos, poderiam ter sido usados em obras muito mais necessárias para o país que pessoas empresárias com um mínimo de dissertimento saberiam. Mas resolveram dentre tantos investimentos importantes, que fazer megarenas de futebol, muitas em locais que nem possuem um time de futebol de varzea sério, e realizar um megaevento eletista seria muito útil para pessoas doentes, crianças sem educação, famílias sem casas, gente sem alimentação adequada e sub-empregos a beira da escravidão em um sistema de transporte de 5º mundo. Fantastica essa opção!
Mas não podemos ser tão otimistas em um país que a corrupção é um processo corriqueiro e que tem alto indice de impunidade. As chances que os cofres do BNDES recebam de volta o dinheiro emprestado são incertas, aja visto, que boa parte das pessoas empresárias possuem grande influência nos bastidores do poder brasileiro e poderão ser beneficiados por leis e facilitações de seus amigos partidários, que mordem uma graninha nesses grandes negócios com o erário publico.
Daí que militantes aceitarem um argumento tão leviano nos leva a refletir sobre que tipo de militância é essa, que nega a história da resistência e da luta de nosso povo e dá as pessoas poderosas espaço e complacência com suas mentiras deslavadas. Uma militância que se diz radical, que propõe o fim do Estado e das classes não deve jamais se submeter aos regramentos dos poderosos e de suas condutas ilicitas que nos causam sofrimento.
Com os poderosos não se dialoga. Não somos joguinhos em sua manipulação pela perpetuação do poder, já chega!
As ruas pela autogestão, porque gerir a nossa vida e tudo relativo a ela é nossa responsabilidade!

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